sábado, 28 de julho de 2012

ACUSAÇÃO INFUNDADA



Por que será que o ser humano tem o péssimo hábito de ficar imaginando coisas que não existem ou não aconteceram? A nossa imaginação é uma arma de dois gumes, ou seja, corta pelos dois lados da lâmina: a nós mesmos por não sabermos controlar o nosso ímpeto, em virtude de insegurança e, àqueles a quem amamos ou pensamos amar.
Aquela maldita mania que temos de achar que alguém não merece a nossa confiança, já causou muita desgraça nas relações humanas. Muitos casamentos destruídos, sociedades desfeitas, amizades perdidas e aquela estranha sensação de vazio na alma, com sentimentos de culpa e remorso.
A partir do momento que passamos a desconfiar de alguém, seja entre amigos, namorados ou casados, inicia em nós o processo da arbitrariedade egoísta da nossa imaginação. Ela nos guia para caminhos falsos, impedindo que vejamos com clareza a situação.
Ao invés de buscarmos a solução dos problemas com a pessoa de nossas relações, fazemos o contrário: decidimos tudo sozinhos como se fôssemos os donos da verdade. É raro vermos o diálogo entre as pessoas, no sentido de esclarecer certas dúvidas.
 No instante em que tomamos a resolução de que as coisas são como achamos que devem ser, estamos sendo parciais, ou seja, não consultamos a pessoa da nossa desconfiança, como se já a imaginamos culpada e merecedora de nossa indignação. Pois, indignadas ficam as pessoas que foram ofendidas injustamente, cuja cicatriz anímica tem difícil reparação.
Se os seres humanos soubessem como é oneroso reparar males provindos de machucaduras e feridas dos sentimentos, pensariam duas vezes antes de agir com prepotência. Os danos causados no corpo com o tempo cicatrizam. Mas aqueles ocasionados ao espírito, por vezes, duram a vida toda e continuam após a morte terrena. Não devemos guardar mágoas. Quem fizer isso vai se arrepender de ter nascido.
Nossa história da semana começa com alguém que não soube separar a fantasia da realidade: “Ana, desconfiada de que seu marido, Artur, tinha outra mulher, deu asas à imaginação. Olhava para ele e já se sentia traída. Cada vez que Artur chegava atrasado do trabalho por causa do trânsito complicado, Ana já fantasiava: – Demorou por causa da outra. Devem ter se encontrado hoje e por isso se atrasou.
Quando seu marido chegava em casa cansado, ela já agia como se tudo o que tivesse pensado fosse verdade. Então não servia o jantar, ficava mal-humorada, procurava motivos para reclamar. Às vezes seu marido ficava disperso, com o pensamento longe, e Ana já pensava consigo mesma: ‘Olha só como está pensativo! Aposto que está pensando nela...’
A imaginação de Ana foi voando alto, até que um dia resolveu seguir o marido e pensou: ‘Vou acabar com o namoro deles de uma vez por todas.’ Esperou-os na saída do trabalho para pegá-los em flagrante. Artur saiu, pegou o carro, e Ana o seguiu. Viu quando ele parou na floricultura e comprou flores. Ana quase teve um ataque!
Pensava: ‘Que mau-caráter! Gastando com outra!’ E ficou tão nervosa que foi para casa aos prantos. Chegando em casa, jogou-se na cama e chorava compulsivamente. Quando seu marido chegou e foi até o quarto, Ana, sem nem mesmo olhar para ele, desabafou: – Eu vi tudo, você comprando flores para ela! Você me traiu, não tem vergonha...
E levantou-se da cama a fim de encará-lo. Para surpresa sua, ele trazia um buquê de flores na mão e, muito chateado, disse: – Ana, hoje é dia do nosso aniversário de casamento, você nem se lembrou? Muitas vezes nos fixamos em um pensamento que acabamos fazendo dele uma realidade para nós e agindo como se o fato fosse real.
E sofremos, desesperamo-nos por algo que nem corresponde à realidade. Às vezes até perdemos momentos bons da nossa vida por criar situações imaginárias e vivê-las como se fossem reais. Moral da história: cuidado! Assim como Ana você pode estar confundindo a realidade com sua imaginação, o que pode trazer para sua vida e para a do outro um sofrimento desnecessário.”


Richard Zajaczkowski, bacharel em Direito, jornalista

    

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